sábado, 20 de março de 2010

Clara lembrança do mundo antigo

"Venham ver como dão mel as abelhas do céu"...

Precisando rever minha vida passei da uma aqui em casa, em São Miguel das Matas... muita coisa para desenterrar no quintal das lembranças...

Muito a doses bem fecundas, apertei os cintos e me lancei no fech'olhos da imaginação; veio a clara memória do mundo antigo... de fechar trancas com tramelas de madeiras; de limpar a cuspideira; do medo da garruncha de meu pai e de suas sandalhas de couro; dos balanços e quedas; das casinhas de antanho caiadas, cujas portas e janelas eram largas e azuis; do pé de Seriguela e Carambola; das lagartas deliciosas de Licuri...

Como não explodir a cabeça nesse remanso...

Vem ao vislumbre:

As festas de reza de D. Fafá... kirie eleison...
Os batucajés de Fernando entrando noite adentro e aduncando nossa ancestralidade
As viagens à Milagres e à Lapa em pau-de-arara...
As desembocaduras das sandálias avessas...
As vaqueijadas solares...
Os pés descalsos nas Festas de São Roque...
As lenhas na cabeça de minha avó...
O terço e ofício na casa de Dona Terezinha...
Bebe e eu conversando com Titita e Ana...
Helder querendo ser Papa...
O catecismo de Nice Meu Povo e a sua vitrola trá-lá-lá-lá-lá...
A feira chique...
As festas do Agricultor...
Os carinhos da Pró Lurdinha me chamando de Bode...
A caneta furtada dela, levada em chuva e choro, por mim e minha mãe...

Tantas desembocaduras...

A vida dura o suficiente para dar medo, eu penso... e principalmente o medo de esquecer o vivido e visto... o medo de perder a capacidade de imaginar com a sedução eletrodoméstica... Medo da caducaquice dos parques e pontes...

Medo de deixar de ter medo da morte...

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