sábado, 27 de março de 2010




(retirada do mesmo Blog)

Tudo vira Bosta...

“Ai, meu Deus!/ O que foi que aconteceu/ Com a música popular brasileira”?

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana. Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados. De um lado, reforçam a idéia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política. A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.

“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.

Nenhum dos dois – nem Caetano, nem Rita – têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito de roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre. Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não agüentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever. Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT. Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal. Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta

Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que -na voz de Rita Lee- a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música – ‘Se Manca’ – dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas – ‘Você vem’ – ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem….e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”. O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil.

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

P.S.: Uma leitora cricri, mas competente, que está fazendo doutorado em São Paulo (e a tese, quando é que sai?) me lembra que a FAPEAM e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas constituem o lado sério da atual política estadual, responsável, em 2007, pela primeira lei de mudanças climáticas no Brasil.

♦ O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

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O texto é do profº Jose Ribamar Bessa Freire e foi divulgado no seu site-blog Taqui Pra Ti,e também no Blog da Amazônia por Altino Machado e em seu próprio blog.

Agora eu, com minha humilde e quase (eu disse QUASE) insignificante opinião, só posso dizer: “nada mais a declarar”, o autor do texto disse tudo, e o meu silêncio para essa pessoa que se diz “artista”, é mais um pesar do que qualquer outra coisa, meus pésames à uma pessoa sem informação, que está morta intelectualmente. E olha que eu nem sou um ativista político, nem tampouco um conhecedor profundo de política, mas conheço muito bem a história e os feitos de Marina Silva (The Giant) para o Acre e para a Amazônia! Posso até ser um defensor político efémero, contudo, não partidariamente, ressalvo que o Acre , Amazônia e o Brasil só tem a agradecer à Marina Silva, e infelizmente a música de Rita Lee nunca vai ser tão influente quanto.


Tirado do Blog Indiscussão

prosando para azedar o tom

Muito dessa cica triste de palavras doces fez entãos frequentes em dias turvados de sins e de nãos... To nessa de ir e vir ao mesmo lugar: Ilha dos passos. Coisa vinda e antiga de mim sangrando guitarras excitadas. Vaidades telúricas fazendo gota de verão em noites de pássaros...

Solto no passado, soletro as siglas que me restam: Alfabeto eriçado em cartilha. Tantas fotos caiadas a tingir os inchaços na parede de papeiras gorgas...

Coisa inacabada é ser gente... e ter de nascer e morrer numa eternidade de chitas feiticeiras... ô espécie envergada no tempo do sem juízo... Alberto Caeiro dizia..


XVIII

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...


Lembro de Neuza... sua postagem mulher indefinível casando com uma simplicidade absurda ferindo o pé das jaqueiras. Neuza vive. Nela está um não-sei-quê que sobretinge... uma felicidade macabéica de nem ser... Não sede, não fome... coisa de gaveta entrada de papel e folha de flandres.


Nó ainda mais bem dado é o poema contíguo ao de antes de Alberto Caeiro:


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois (4-3-1914)

XVI

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhazinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Ou então faziam de mim qualquer coisa diferente
E eu não sabia nada do que de mim faziam...
Mas eu não sou um carro, sou diferente
Mas em que sou realmente diferente nunca me diriam.



...Isso dá medo, como ter serventia num mundo nevado de seus sis...

Pela Campanha Marina Silva Presidente...

Vocês já sabem: o aquecimento global é uma das grandes preocupações do momento. Pesquisas recentes indicam que uma ligeira variação na
temperatura do planeta pode inviabilizar a vida ou, pelo menos, causar
grandes transtornos para a humanidade.




No próximo sábado, pessoas de todo o planeta se unirão para demonstrar às autoridades mundiais a sua preocupação com esse problema
que atinge todos nós. A Hora
do Planeta é uma maneira simples mas também poética para qualquer um
se manifestar.




A proposta é muito simples: vamos apagar as luzes por uma hora, entre 20:30h e 21:30h. Como muitas pessoas participam, o efeito é monumental.
Bairros e cidades inteiros escurecem quase no mesmo instante.

Além de apagar as luzes da sua casa, você também pode ajudar avisando e incentivando os seus amigos e familiares a participarem. Faça isso e
depois me conte se essa não foi uma experiência emocionante.


Visite MOVIMENTO MARINA SILVA em: http://www.movimentomarinasilva.org.br/?xg_source=msg_mes_network

sábado, 20 de março de 2010

Lua Bonita

(Composição: Zé do Norte / Zé Martins)

Lua bonita,
Se tu não fosses casada
Eu preparava uma escada
Pra ir no céu te buscar
Se tu colasse teu frio com meu calor
Eu pedia ao nosso senhor
Pra contigo me casar
Lua bonita
Me faz aborrecimento
Ver São Jorge no jumento
Pisando no teu clarão
Pra que cassaste com um homem tão sisudo
Que come dorme faz tudo, dentro do seu coração?
Lua Bonita, Meu São Jorge é teu senhor,
E é por isso que ele "véve" pisando teu esplendor
Lua Bonita se tu ouvisses meus conselhos
Vai ouvir pois sou alheio,
Quem te fala é meu amor
Deixa São Jorge no seu jubaio amuntado
E vem cá para o meu lado
Pra gente viver sem dor.

(Para a lua de Simone Sento Sé)

O Amor (Wladimir Maiakovski)

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o enxame
de mil nadas, que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que
doravante
a família
seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.

(Última parte do poema "A Propósito Disto", 1923)

Clara lembrança do mundo antigo

"Venham ver como dão mel as abelhas do céu"...

Precisando rever minha vida passei da uma aqui em casa, em São Miguel das Matas... muita coisa para desenterrar no quintal das lembranças...

Muito a doses bem fecundas, apertei os cintos e me lancei no fech'olhos da imaginação; veio a clara memória do mundo antigo... de fechar trancas com tramelas de madeiras; de limpar a cuspideira; do medo da garruncha de meu pai e de suas sandalhas de couro; dos balanços e quedas; das casinhas de antanho caiadas, cujas portas e janelas eram largas e azuis; do pé de Seriguela e Carambola; das lagartas deliciosas de Licuri...

Como não explodir a cabeça nesse remanso...

Vem ao vislumbre:

As festas de reza de D. Fafá... kirie eleison...
Os batucajés de Fernando entrando noite adentro e aduncando nossa ancestralidade
As viagens à Milagres e à Lapa em pau-de-arara...
As desembocaduras das sandálias avessas...
As vaqueijadas solares...
Os pés descalsos nas Festas de São Roque...
As lenhas na cabeça de minha avó...
O terço e ofício na casa de Dona Terezinha...
Bebe e eu conversando com Titita e Ana...
Helder querendo ser Papa...
O catecismo de Nice Meu Povo e a sua vitrola trá-lá-lá-lá-lá...
A feira chique...
As festas do Agricultor...
Os carinhos da Pró Lurdinha me chamando de Bode...
A caneta furtada dela, levada em chuva e choro, por mim e minha mãe...

Tantas desembocaduras...

A vida dura o suficiente para dar medo, eu penso... e principalmente o medo de esquecer o vivido e visto... o medo de perder a capacidade de imaginar com a sedução eletrodoméstica... Medo da caducaquice dos parques e pontes...

Medo de deixar de ter medo da morte...

sexta-feira, 19 de março de 2010

...quem quiser passar além do Bojador, tem que passar além da dor... (Fernando Pessoa)

São tantas idas ao sumidouro do espelho...
Tanta coisas vindas também...

A vida tem pressa, tem silêncios infernais...

Uma vontade bugre de soltar os carrosséis da infância e chegar logo a esse desconhecido que me late os pés...

Um desejo de morder os pés e sangrar a terra...implodindo aos poucos o si do "mim mesmo"...

, e aprender a ficar quieto,
e deixar a vida ter sua vida própria...

Ufa, como diz Adriana Calcanhoto,
"A vida inteira eu quis um verso simples pra transformar o que eu digo"...

busco sempre esse verso, esse tronco... Quem puder e tiver misericórdia me ajude, que se indique... um palavra já é clara evidência...
Como esse poema de Eduardo Alves Costa punge intervalos de fomes... impulsiona socos no estômago como carências... faz muito sentido para mim...

No Caminho, com Maiakovski (Eduardo Alves da Costa)

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa
casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da
garganta.
E já não podemos dizer nada.

receita para cortar cebola sem chorar

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.

(Prédica de um Pastor Luterano contra o nazismo)

terça-feira, 16 de março de 2010

Eu tenho dentro de mim
dores do passado,
amores errados,
coisas que não sei...

alguns futuros,
acontecimentos meio duros,
coisas que voltam a machucar...

Eu tenho dentro de mim
um pedaço de mar da Bahia,
alguma alegria,
alguém pra amar...

Eu tenho dentro de mim
tanta insegurança,
coisas de criança,
cantigas de ninar.

Eu tenho dentro de mim
algumas paisagens,
algumas imagens (de sonho)
e alguma coragem pra continuar."

(Cássio Junqueira)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Maturando o hálito

.


.


.

(Uma lata de sílabas lota o gameta das palavras)

É o tom azulado,
prenhe de desejos...

É um trem
de lembranças idas...

É a pele antiga
dos meus dedos

Penteando masturbações
vadias em dias de outono...

Jober Pascoal

Giganteiro de angústias

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Meio a meio, corro a faíscas de mim.
- Não me encontro... não me assomo.

Esfarelo trilhas,
- Não me busco.

Escapolem as vigas,
-Não me ouvem.

Nu,
grito no escuro...

O que me ouve
responde:
'Cálice em vinho tinto de sangue'

Atropelo a vida veloz,
'nos velhos vórtices' que me sufoca:
'viva, vã, vulcanizada' no ver vadias
as coisas idas, em sopro, engradadas

-Não queiram mal
ao cabo dessa viagem.

- É a vau de mim que os avança,
tange
e sufoca

vazando o sal de soluços
em letra amorfa.

Jober Pascoal

salgador de palavras


s lembranças fartas desse dia)

Gosto de coisas...

Digo coisas de sins,
prosa, entãos,
coisas de vins,
louças e vãos.


Inauguro reinos

jamais visitados.

Estou sempre voltando

ao 'si' de mim...


A minha alegria é esta:

poder ir a lugar nenhum

que me indicam os pés,

sentir o fato grande

de ser um só, dia e noite,

e ler o passado grosso

de meus avós

no fio esquecido

portuado de memórias.


Jober Pascoal