sábado, 27 de março de 2010

prosando para azedar o tom

Muito dessa cica triste de palavras doces fez entãos frequentes em dias turvados de sins e de nãos... To nessa de ir e vir ao mesmo lugar: Ilha dos passos. Coisa vinda e antiga de mim sangrando guitarras excitadas. Vaidades telúricas fazendo gota de verão em noites de pássaros...

Solto no passado, soletro as siglas que me restam: Alfabeto eriçado em cartilha. Tantas fotos caiadas a tingir os inchaços na parede de papeiras gorgas...

Coisa inacabada é ser gente... e ter de nascer e morrer numa eternidade de chitas feiticeiras... ô espécie envergada no tempo do sem juízo... Alberto Caeiro dizia..


XVIII

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...


Lembro de Neuza... sua postagem mulher indefinível casando com uma simplicidade absurda ferindo o pé das jaqueiras. Neuza vive. Nela está um não-sei-quê que sobretinge... uma felicidade macabéica de nem ser... Não sede, não fome... coisa de gaveta entrada de papel e folha de flandres.


Nó ainda mais bem dado é o poema contíguo ao de antes de Alberto Caeiro:


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois (4-3-1914)

XVI

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhazinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Ou então faziam de mim qualquer coisa diferente
E eu não sabia nada do que de mim faziam...
Mas eu não sou um carro, sou diferente
Mas em que sou realmente diferente nunca me diriam.



...Isso dá medo, como ter serventia num mundo nevado de seus sis...

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