sexta-feira, 30 de abril de 2010

Oi, Meu único amor....

Não tenho como revisar as emoções perante o lido. Meu corpo dói de te ler, vivo, dentro de mim, fulgente qual fogos de artifício. Nossa, Como entender esse amar-amaro que me consome...esse perder-se entre monstros da nossa própria criação...

Não sei o que significam essas lágrimas duras que me ferem tanto...tudo é tão pesado.

E a minha fuga de sentir tudo e me controlar do desespero, da febre infame que a vida representa..

Tudo é tão esparso...doído e assaltante do melhor de nós...

To lendo convulsivamente Caio Fernando Abreu, talvez como forma de te sentir próximo, solto e revolto dentro de algumas páginas de minha história...

dentro desse quarto:

Sua alegria, eletricidade fogareira, sua isso e aquilo...tudo está impregnado no assoalho das lembranças mais doídas e fantasmas dessa doida vida...tudo dependendo de um telefonema e do meu medo de não importuná-lo mais e mais...definitivo, pós-parto, e a estação do outono outra vez inverno.

amor é bicho instruído...diria esquisito. Prepara o terreno da lembrança e dos mesmos passeios terreais e bruitais...

tem uma poesia de Drummond vista agora no assalto à obra completa que parece um recado sonetista, sei lá...um tanto providencial para os ânimos aleivados que estou... embaralhando as letras da sua resposta...

Faz parte da seção Lavra, do "Lição de Coisas". Consta...

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assem a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir maos o existido
continua a doer eternamente.

É doído cada recordação. Á proposito, não sei se vale saber, mas o seu chocolate ainda vive na minha geladeira...Uma amiga veio aqui em casa e reclamou, profundamente, do meu estado definitivo de "amar o perdido e deixar confundido este coração"...Ela não entenderia tão facilmente, por mais próxima que fosse seu estado em minha vida...Não advinharia as noites-travesseiras provocadas no sanhaço das pernas desse amor suicida, nem imaginaria os ensaios de cartas escritas a mim como forma de conter o vácuo que se formou entre o nada e o vão

...Apaguei números, mensagens, tudo..escondia a pedra verde para não ter ali a memória daquela paixão mordida...e nada...suas risadas jazendo minha cabeça como trem de risco (meio que roubando o poema homônimo de Ana Bárbara, uma amiga)...flutuando em matérias de desassossego...

"Invento o mais que a solidão me dá" (Milton Nascimento)

Suplantava essa falta com mais leituras, pessoas, bichos, viagens...nada...o amor sobrevinha no esquecimento, na velhice, na própria burrice de continuar sofrendo...e estalava perverso aos cacos de vidro em cada passagem...

Você bagunçou tudo..eu me achava organizado nessas disciplinas de não sofrer.. mas tudo barraventou, e a pescaria assanhou-se em meu juízo. Vacilando o próprio corpo na espera de calmarias. Decidi pelo engaste...pelo cais...pelo mar

E...

Eu te amo e não sei, nesse momento das duas e treze da madrugada, fazer outra coisa que não ebulir esse coração de gás e saudade e controlá-lo da vontade de te beijar preciso e urgentemente...imaginar os nossos chãos saindo de nós e tudo pegando vento pelo quarto e pelos quadris...

Queria ter o direito de cometer mais outro erro em minha vida: estar contigo, ser teu e ser meu... como a fé dos desesperados, como açucar para diabéticos

...o grande problema... eu não conto com os seus cuidados, nem sei se cuidaria ou sequer cuidei de você e de suas fomes e alegrias e tristezas...

eu só sei que valeria apena ralhar e moldar a cara no cimento granzeiro outra vez...a fim de sentir o já havido..

Sei que são palavras obcenas...e mais obceno é todo branco enfestio, bravo, devotante de não ser sempre virgem dentro desse sangue em meu corpo...

"Eu não gosto do bom senso, eu não gosto dos bons modos...eu gosto dos que têm fome, dos que secam de desejo, dos que ardem"...como diz Kerowak....

Ah...quero escrever especificamente de algumas partes do seu responsório bem lindo-limpo e nas palavras mais doces, agradeço...

Primeiro, com uma dúvida..."como definir?" eu não saberia me definir como sujeito histórico do que vivi... como posso permanecer ainda vivo...saído de tanto orgulho, de tanto medo, de tanta vergonha do amar vasto que me invadiu contigo.

Eu era quem queria ter uma sobra do teu tempo para que vc pudesse definir o que aconteceu realmente no mês sem notícia e sem nada que pudesse aliviar e livrar meu corpo de mim, de meus dilaceramentos...Eu chorei tanto...me esc...também não quero fazer drama...chega de platonices...a vida é o que é...doce pânico...

Fiquei sem entender muito a falta que lhe fiz...



Beijos

Ainda, seu cuidado...

Descuidadamente,
Eu

(Também "te beijo nesse fim" ...)

Qualquer

Qualquer tempo é tempo
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.

(Carlos Drummond de Andrade)

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