sexta-feira, 30 de abril de 2010

salmo responsorial a uma lagarta pintada

Escrevo porque sinto saudades. Porque existe o nada que é o deus que criou o céu e a terra. Porque são quatro e dezoito da madrugada e sinto o aperto no lembrar das pessoas tão levemente pesadas que em mim se transformaram em chuvas de muitas passagens...azul de um azul celeste celestial, azul que não há...azul que é sempre lembrança de algum lugar...

De lá pra cá...muito tempo se indo, se vindo... muita poeira guardada na foligem de muitas calações e pirraças...você com suas palavras drágeas, eu com minha calada raiva...mar e sol e lua e vento...muito dentro de nós em ondinas...

Alguma promessa de que tudo podia ser amizade um dia...um beijo de chocolate, "de algodão" nos preencheu e todo o universo fechado foi-se abrindo manhoso como balde emborcando em fonte tépida...morna de cartas e embrulhos..

Palavras bonitas aparecendo e vidrando algumas distâncias...leve paisagem, coisa discreta de sim e de não...

Mas tudo é passagem...

Como é doído, digo difícil, ver de cima dum oiteiro estas lembranças como rebanhos, meio que parafraseando Alberto Caeiro...meio que meio-a-meio...


...Gostaria mesmo de entender os porquês do meu não proselitismo em não querer ver o mais óbvio, surpreendido e suspenso do caos...não querer ver é enxergar o mais claro dessa cegueira branca. Que cada um tem seu trem de risco e que, leve, leva à sua tamanhura e presteza...

Se você fizer algum esforço, lembrará da minha dificuldade com perdas, de minha falta de sorte em não ter o quê amar-amaro...

To lendo muito até me arderem os ônibus da vista Caio Fernando Abreu. Eus insubmissos afirmando fortições de desejo...uma querença dos milagres que em só diabo a coisa tontura, mas indo lento e andrajoso...

Única coisa é que amizade é coisa de ter telefone funcionando e cara-de-pau para amedralhar...outras coisas aprendidas no avesso das conversas...aprendi que nem sempre se defende a verdade estampada nos lábios...é só enfeite, ou só ensaio.."a vida mesmo, a vida é muito pior" como bem referiu-se Belchior...

Enamorei-me dias e meses de uma dona de longe que entrou em minha vida. Tudo tão instante...agora morto... porque se indo a fome de amar, resta o escárnio de lembrar de não o haver feito em melhor agrado...

Um moço do doiro aparentou chegado, mas também se foi, deixando metros e metros de gravata e sorrisos longos...

Amei. Até dar de doer no sono...minha carnes aprofundaram carências tão "obtusas"... são loirices bestas estas, mas minhas...

escrevo porque você foi sílaba, uma parede, uma transvessal de dutos e viadutos...porque aprendi como é bom sentir saudades de alguém que, de repente, morre. E renasce vinhedo de outra freguesia...

Tantos pontinhos, talvez três (. . .) fossem suficientes, mas não serão relações, tampouco ulteriores às reticencias e datas que me sobrevieram pelos dias de alteio e fanfarrice...tantas garrafas, pedras, memórias não deixam a gente se consumir quieto em esquecimento...

Tudo pirraça um pouco

Tudo é uma ganhação...um renovo...

Algumas poesias só interpretei com a sua ajuda...as mesmas tem outro formato quando a gente as têm na cabeça e pensa devagar nelas como uma cisma...

Eu agradeço de novo ter podido furtar o 'de melhor' que você pôde dar...visto de coração...

É... tenho de por fim a esta costura de tanto ter o que dizer e não dizer...

escrevi mesmo porque amo, afastado, modorrento, sonolento e sonhando... e amor é gripe suave, depois vira febre ameaçadora...e amar é para vida inteira, como marca de sarampo, bexiga ou vacina, ou sorvete de frutas vermelhas amargas e gostosas...

Beijos...

Dionísius.

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